O cristianismo primitivo era comunista?

"Assim, pois, qualquer um de vós que não renuncia a tudo o que possui não pode ser meu discípulo." Lc 14:33

fonte: http://www.bibliacatolica.com.br/01/49/14.php#ixzz1xoRzag7i


O cristianismo primitivo era comunista ou esse negócio de renunciar a tudo é só uma parabola fora de contexto?

Mat, Jesus de forma alguma está falando com alguma conotação comunista e política e sim no sentido de não se colocar nada antes Dele. Jesus nunca quis que as pessoas se despojassem unicamente de seus bens e deixassem seus cérebros de molho.

O que enfatizava Jesus ali? Que aquele que quiser ser discípulo de Cristo precisa estar disposto e ser capaz de colocar este discipulado em primeiro lugar na vida, antes de todas as outras coisas, e estar disposto a suportar quaisquer sofrimentos ou provações que acompanham este privilégio. Logo de início, deve-se poder aceitar tudo o que está envolvido nisso e calcular se se pode completar o curso do discipulado, assim como o homem que quer construir uma torre termina com a construção dela.

"é só uma parabola fora de contexto?"

Parece que isso virou um mantra de alguns amigos ateus falarem (com todo o respeito, Mat) por causa do fato de alguns cristãos mencionarem essas palavras.

Não, meu amigo. Muitas vezes a confusão de vocês, ateus, está não na questão do "contexto" ou figura de linguagem textual e sim na interpretação e exegese mesmo.

No caso que citou, de Lc. 14,33, pense no contrário: se Jesus estivesse falando de comunismo, que implicações iram ter?

Por isso é necessário ler todo o conjunto e não só um trecho, como é costume dos ateístas:

Citação :

“Quem se chegar a mim e não odiar (amar menos) seu pai, e mãe, e esposa, e filhos, e irmãos, e irmãs, sim, e até mesmo a sua própria alma, não pode ser meu discípulo. Quem não levar a sua cruz e não vier após mim, não pode ser meu discípulo. Por exemplo, quem de vos, querendo construir uma torre, não se assenta primeiro e calcula a despesa, para ver se tem bastante para completá-la? Senão, ele talvez lance o alicerce dela, mas não a possa completar, e todos os espectadores comecem a ridicularizá-lo, dizendo: ‘Este homem principiou a construir, mas não pôde terminar.’ . . . Podeis estar certos, assim, de que nenhum de vós que não se despedir de todos os seus bens pode ser meu discípulo.” (Luc. 14,25-33)

Citação :

“Quem se chegar a mim e não odiar (amar menos) seu pai, e mãe, e esposa, e filhos, e irmãos, e irmãs, sim, e até mesmo a sua própria alma, não pode ser meu discípulo.

Concordo que a igreja deve dar a melhor interpretação para seus discípulos. Muito embora, essa interpretação se "encaixe" no espírito do tempo de cada tempo (encaixando o "amar menos" na escritura)...

Mas é difícil ler uma passagem como essa e não interpretá-la literalmente...

A Igreja SEMPRE explicou corretamente o sentido da passagem, Mat. Não confunda pessoas com o ensino oficial da Igreja. Como eu disse, ela não é culpada por ter cristãos ignorantes por aí. A informação está ao alcance de todos. Quantos querem procurá-la?

Citação :

(encaixando o "amar menos" na escritura)...

Queridão, isso é um hebraísmo, uma figura de linguagem típica da época. Por terem alguns tradutores mantido ao pé da letra isso, alguns erroneamente tomam no sentido atual de "detestar alguém". Mas não é isso o que a figura de linguagem quer dizer. Seria ridículo interpretar dessa forma dado todo o contexto e concordância que Jesus ensinou.

Citação :

Mas é difícil ler uma passagem como essa e não interpretá-la literalmente...

Você não pode ler uma obra de literatura sem contextualizá-la e entender sua correta hermenêutica (outra palavrinha assoreada por ateístas por aí. Leia-se "Ceticismo.net")

Vejo o trecho como um elogio ao ascetismo, ao renunciar ao mundo. É oposto ao comunismo pois não implica que devemos forçar o sujeito a renunciar, e sim que essa renúncia deve ser completamente individual, e não um acontecimento social, político ou histórico. Não implica, em, por exemplo, elogiar um ladrão por ele despojar um sujeito de seus bens, mas em elogiar o sujeito que, tranquilamente, encara aquela perda.

Penso que isso pode também ser estendido às relações interpessoais, há sim um menor apego pela família. Não que devemos acabar com a família enquanto célula social, nem nada parecido, mas sim que o asceta deve deixar de lado aspectos do mundo terreno, que inclui os bens materiais, o status social, e inclui também a família. Talvez não o aspecto espiritual que a família possa ter, mas seu papel terreno: a convivência familiar, as preocupações familiares, etc, que são aspectos terrenos da vida familiar.